Deixe-me rir antes de falar,
mas é exatamente assim
este tal de Poeta, guardado calmo
na tempestade da própria alma.
Pega a caneta, a empunha
e desafia a lenta folha de papel,
com suas grades; a desafia,
à que ela liberte palavras antigas
e levante o tampão de buracos tristes
onde olhares em caixões foram mergulhados,
e pede para uma nova alma morar neles.
E este sujeitinho de caneta,
em calmo desespero,
faz um sol de fim de tarde,
sem nenhum alarde colorir as folhas do cipreste,
brilhar o trinado do pardal
e encher a água de dourado.
Faz o rio correr lento, sinuoso de saudade,
levando todo dia para outros lugares as margens.
Ele desafia o parto de substantivos fortes
em adjetivos estéreis,
ordenha verbos a movimentos e variações
que fazem dançar orações e versos.
Bem, essa figurinha com rosto de brisa
tem uma ventania nas mãos
e uma tempestade no olhar,
escreve; por que escrever
nada tarda,
no soneto nada falha,
no poema, apenas
tudo passa.
San Rodrigues
As palavras são este lugar secreto em que nossa alma acontece, nós as olhamos, medimos, viramos, desviramos e as costuramos umas às outras, remamos com as palavras e nosso barco é este breve instante.
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Letras e Atos...
Este espaço é um ensaio para a escrita fotográfica, aquela que vê a cena e provoca as palavras para que possam construir a metáfora da imagem.
Gravando as imagens do diálogo, dos gestos, dos paragrafos, do detalhe nos verbos, em assustadores substantivos e adjetivos maleáveis... que possam traduzir emoções guardadas num lugar secreto.
San Rodrigues
Gravando as imagens do diálogo, dos gestos, dos paragrafos, do detalhe nos verbos, em assustadores substantivos e adjetivos maleáveis... que possam traduzir emoções guardadas num lugar secreto.
San Rodrigues
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