Ontem, lá por volta de cinco minutos antes
da melhor hora do dia,
um poema campesino
fez amor com a geografia de minha alma.
Me levou três profundas respirações
e algumas lágrimas
e me deu aula de solidão
esse lugar,
o único lugar em que nascem as ideias.
E eu senti um peso súbito
que me levou ao fundo das coisas
que estão antes do meu olhar.
O poema campeiro,
meio rústico e sincero,
usava palavras com sentidos inteiros,
intensos, modernos, graves;
me falava de meus intervalos,
de minha alternâncias,
destas dissonâncias
e eu desembainhei austeridades de meu olhar,
mas rachei essas minhas pedras com um sorriso,
bati com firmeza de pelo menos uma esperança,
uma destas que flutuam frente a dimensão tensa.
Eu desvesti minhas frases,
deixei nus os paradigmas da infância,
corri desprotegido,
por que é assim que deve ser,
foi como o poema me disse
e olhou para meus pés,
e me falou de que deixaria algumas semente
de caminhos dentro de mim e me disse:
anda,
agarra o caminho com seus passos.
E fui guardando os dias no meu espaço pequeno,
dilatando novas parlendas,
fazendo acordos com minha essência,
violando a fé para afirmar minhas certezas.
Doíam pés, mãos e abraços;
e no fim de alguma tarde
de um silencioso e desesperado grito,
no meio de meu homem feito,
nasci.
San Rodrigues