Quanta
alma cabe num respiro?
Quanta morte
cabe num tiro?
Quanto alívio
cabe num espirro?
Quanta ida
cabe num caminho?
Quanta prosa
cabe num suspiro?
Quantas
asas cabem num ninho?
Quanta ironia
cabe no destino?
Quantos
pinos cabem no braço?
Quantas
voltas cabem num abraço?
Quando retorno
cabe no passo?
Quanta
sanidade cabe na loucura?
Quanto negror
dorme na alvura?
Quantos
tufões moram na candura?
Quantos
apertos moram na largura?
Quantas
flores nascem na rachadura?
Quanta emoção
cabe na razão?
Quanta virgindade
cabe no tesão?
Quantos
dedos cabem na acusação?
Quantos
pés pisaram o chão?
Quanto de
Deus tem no pagão?
Quantos
cumprimentos cabem na mão?
Quanto queijo
cabe no rato?
Quanto cheiro
cabe no olfato?
Quanta pele
cabe no tato?
Quanta oração
cabe na igreja?
Quanta guerra
cabe na peleja?
Quanta coisa
na brisa adeja?
Quanta poesia
o poeta planeja?
Quanta dureza
cabe no bem?
Quanto ali
cabe no aquém?
Quanto sucesso
cabe a ninguém?
Quanta atenção
tem no desdém?
Quanto deserto
envolve o oásis?
Quanta nudez
mora nos trajes?
Quantos
olhares constroem a paisagem?
Quanto de
nada há na quantidade?
Quanta idade
mudou meu esquema?
Quanta dor
pra fazer um poema?
E o
necessário?
O ar e
o ovário.
San Rodrigues