no intervalo do meu dia
no espaço da saudade,
entre a dor e a palavra fria.
Se eu realmente soubesse o que dizer,
não teria escrito,
teria plantado uma árvore,
teria cavado um poço,
apenas cavado um buraco.
Mas escrevi,
por que as horas não bastam ao tempo;
esse devorador de eternidades,
por que a respiração não basta ao peito,
essa caixa de ansiedades.
Escrevi para me render,
manietar minhas vontades,
domar meus costumes,
insistir em esvaziar minhas ausências,
minha vacuidade vaidosa.
Essa dolência de rancor
e a frugalidade exposta.
Eu quis escrever,
por que as nuvens não são o céu,
por que o sol não é a luz,
os sonhos não são tolices
e o mar não é azul.
Quando amanheceu,
dei bom dia às horas,
me vesti de alguns segundos,
pintei a alma com instantes
e desafiei o breve mundo.
Montei na esperança
e ela entendeu o meu lugar,
por que nestas coisas de palavras
tudo termina,
só não o olhar.
San Rodrigues
San Rodrigues