Séculos de silêncio
em fluido desespero;
magro,
afoito
e a esperança em histólise,
na rudeza dessas leis do deserto.
A luz.
Luz lenta da estrela vésper
vai encharcando as ruas de Sião,
escorre para as janelas
e pega desprevenidos os olhos da religião.
Troa a trova
e prosa a trombeta
nos pés firmes
dos três reis.
De qualquer reino.
De qualquer destreza.
Deus!
Imanente transcendência da beleza.
Gotejou dos céus.
Uma gota por dia
a cada mil anos,
se plantou na esperança,
desafiou a inteligência.
Escolheu átomos e células,
plantou um coração
na corrente sanguínea
e nasceu num corpo meu,
num corpo seu,
e em tantos nossos,
iguais e deixou-se amadurecer
por trinta e três outonos,
entre verões e invernos.
Até a cruz fazer primavera.
Estrela vesper,
você viu!
A manjedoura inteira viu!
Belém não tinha sinos mas retiniu!
Na beira do deserto,
no silêncio do Tiberíades.
Ele chorou
e o universo inteiro riu.
Anjos,
arcanjos,
querubins
e o pintassilgo estavam reverentes,
ardentes,
lirados pela rima do verso de Miquéias.
E tu Belém Efrata!
Ergue de tuas entranhas
a paz,
a vida,
a graça.
Deus é natento.
Plantou nos dias secos de pecado
o eterno rebento.
Ele mesmo.
No mistério trino.
Nasceu,
cresceu,
chorou
e não deixou os corações
e o céu vazios.
Deus nasce na brecha esquecida,
planta-se no minuto frágil
e daqui à tão pouco,
mais breve do que os olhos,
á lágrimas entendem isso,
que a loja chamou de Natal.
San Rodrigues