O mundo gira todo
inteiro para fazer todo dia,
um dia e uma noite
e colocar minha vida
inteirinha dentro dele.
Tudo lento,
alucinadamente rodopiando
num tufãozinho
de retrocedências
e invasões.
Daqui ao próximo
movimento do átomo
mais verde-oliva,
cabe tanto,
cabe tudo,
cabe torno,
cabe entorno,
a dúvida e o retorno,
o célebre e o entulho.
No dia
cabem todos os instantes
ausentes,
todos os respeitos
e universos de balbúrdias.
Partidos e repartidos no ocaso.
Afetos rebeldes,
que cabem
no jardim das cerejeiras,
no berço de Tchekov.
A lentidão que fornica
com o mistério
e pendura a palavra
na parede rachada.
O dia tem espaço,
pá órbita do prego
e do parafuso.
Do espaçoso
e do obtuso.
Cabe a flor
e a beira da floresta,
a abelha
e a larva da colmeia.
A curva
e o continente incontinente.
O puritano e o indecente,
servo da fé sinuosa,
que dança lasciva
e fervorosa.
No dia não cabem eufemismos.
É o dia todo que cabe neles
e o medo vai para todas as formas,
compassadas ou não
e coça as entranhas.
O berço.
O dia tem entranhas
e o meu resto de dias
picados na memória
ficam nascendo e morrendo lá.
Coisas assim,
não tão estranhas,
mas que vão e vem
demorando a explicação.
Yo con mis sueños.
San Rodrigues