As palavras são este lugar secreto em que nossa alma acontece, nós as olhamos, medimos, viramos, desviramos e as costuramos umas às outras, remamos com as palavras e nosso barco é este breve instante.
Espaço Idílico...
LEITORES...
01/10/2011
O POETA...
O poeta não escolhe a poesia;
A poesia sim, escolhe o poeta
Como a relva que nasce na pedra e a esverdeia.
Assim a poesia nascendo no poeta,
A pedra imutável, fria, dura...
A relva verde, vida, nasce... cresce, vai segue em frente
O poeta fica a poesia vai, a poesia segue ardente,
Mas a poesia não esquece a pedra... o poeta ama a relva;
A relva cresce na pedra, a pedra se torna bela...
A relva cobre a pedra, logo se diz: olha a relva,
O poema cobre o poeta, logo se diz: olha o poema...
O poeta só é poeta quando não se vê a pedra
Quando se vê verde, quando se vê vida; eis a poesia,
Como é belo o poeta... Como é vida a poesia.
San Rodrigues
SÓ DE ACHAR...
Fui plantando, achando que colheria
Fui molhando, achando que secaria
Fui olhando, achando que via
Fui tocando, achando que sentia
Fui abraçando, achando que envolvia
Fui andando. achando que podia
Fui comprando, achando que teria
Fui tendo, achando que seria
Fui perdendo, achando que acharia
Fui chegando, achando que ficaria
Fui saindo, achando que voltaria
Fui escrevendo, achando que dizia
Fui apagando, achando que esquecia
Fui falando, achando que me ouvia
Fui odiando, achando que feriria
Fui ponderando, achando que perdoaria
Fui perdoando, achando que viveria
Fui vivendo, achando que morreria
Fui morrendo, achando que arderia
Fui ardendo, achando que apagaria
Fui apagando achando que escurecia
Fui clareando, e tudo oque vi é que achava...
San Rodrigues
BOLHAS...
Eu acendi a noite procurando uma palavra...
Não qualquer palavra, teria de valer a noite violada;
Queria que a palavra desvestida, que me dissesse;
doce e tênue explicasse, sentado no meu papel;
gotejando da ponta de minha caneta triste... Me explicasse
por que no meio do sono, eu não conseguia sonhar...
Porque no meio da respiração eu não conseguia ar;
e no meio do caminho eu não conseguia ir mais um passo mais.
Desses musicais, que encerram a tarde.
Tudo o que querendo viver, meu coração subvertia;
Eu quereria então que a palavra me explicasse, por que assim
tão derrepente a vida escapa, tão assim de leve, tão assim pesada.
Talvez eu tente proteger o movimento das coisas...
como quem tenta proteger uma bolha de qualquer sabão...
de qualquer sonho,
leve colorido,
de força frágil; que sobe tremulando
e faz festa.
Apaguei a noite
e amanheci menino.
San Rodrigues
PARALELOS...
Bem... coisas que não quero olhar;
não quero olhar a dor como o médico,
não quero olhar o prédio como o engenheiro,
não quero olhar o quadro como o pintor,
não quero olhar os alunos como o professor,
não quero olhar as flores como o jardineiro,
não quero olhar a música como o maestro,
não quero olhar a prisão como o carcereiro.
Quero exercer meu direito ao paralelismo;
quero olhar o prédio como o pintor,
quero olhar a sala de aula como o jardineiro,
quero olhar o quadro como o engenheiro,
quero olhar o jardim como o professor,
quero olhar a prisão como o maestro.
Mas a dor, bem esta eu não posso ver como o
carcereiro, o jardineiro, o pintor,o maestro, o professor,
ou qualquer um deles;
A dor só posso ver como o poeta.
San Rodrigues
UM GOLE DE POEMA...
O poema é assim...
Uma figurinha acanhada,
que decide não se mover muito rápido,
não falar muito rápido,
e morre de medo de analistas, ele foge dos divãns;
sim, um dia deste eu o encontrei
numa breve esquina de qualquer dia,
e tudo que ele me disse, é que
não tem a pretensão de ser entendido,
ele me disse que era apenas uma
brisa bem leve, destas que sopram no pensamento,
destas que, entram devagar pela alma a fora e
de alguma forma alcançam nossos mais antigos desertos,[
Ele me disse que gostava de parquinho...
de conversar bobagens e rir de bobeira,
de tomar guarana e andar na feira;
mas não tinha pretensão de explicar ou entender nada;[
apenas estar lá e sentir, e de alguma forma, por alguns instantes
embebedar de ludicidade nossos pensamentos mais sérios
Bem, o poema me disse:
- Se beber algum poema não dirija!!!
E riu bem gostoso...
San Rodrigues
POR FAVOR... NÃO DUVIDEM...
Não duvidem desta pequena verdade meus amigos,
o melhor lugar para se viver ainda é a vida,
este lugarzinho onde nos chocamos
e nos desentendemos,
onde onde coisas tomam o lugar de seres
e seres são tidos como coisas,
a vida ainda é o melhor lugar para viver,
pois ela guarda o reflexo de gerações
que insistiram continuar,
plantar para colher,
ir para chegar,
olhar para ver
e ler para entender...
mas nunca ficar passivo para o melhor presente da vida...
viver.
San Rodrigues
PRECISO SER RÁPIDO...
Vou tentar dizer alguma coisa,
mas preciso ser rápido,
preciso alcança-los antes que cresçam
e quem sabe num fim de tarde,
num desses que a infância resolve ir,
me esqueçam em algum lugarzinho da vida corrida...
Pequenos, quero lhes agradecer,
por que um dia eu tive a vida,
toda ela, invadida pela festa de vocês,
entre uma mamadeira e outra,
entre uma fralda e uma gripinha,
entre um carinho e um chorinho,
entre o berço e a escolinha,
entre o soninho e a corridinha,
Entre o colo e o cavalinho,
entre a maternidade e toda a vida.
Vocês me deram o direito a mais sublime
experiência desta coisa engraçada que é viver.
E quem sabe, em um destes fins de tarde,
num lugarzinho desta vida corrida,
Saiba dizer a vocês, com a palavra mais infantil
muito obrigado por me fazerem um papai...
San Rodrigues
NÃO SEI RIMAR...
Não sei rimar
A rima são duas distâncias,
duas palavras e suas significâncias,
o passo e a parada das andanças
Tentando se encontrar
Nunca tentei rimar
Tenho medo de aparências,
de palavras e conveniências,
dos conformismos e resistências
Deste jeito de falar.
Pensei em rimar
No dia em que vi uma flor
entre a pedra e o caminho
entre a noite e o vespertino
insistindo em exalar.
Decidi então rimar
Quando vi a semelhança
entre a palavra fé e a esperança,
Do indivíduo que as alcança
depois de muito lutar.
Assim fui lá e rimei
Rimei todas as palavras que achei
Amor com dor, pó com só, riu com viu
e no fim descobri que a melhor de todas as rimas
foi quando você sorriu.
San Rodrigues
BREVES LETRAS...
Assim mirei a cena e apontei meu olhar
olhei profundamente, não poderia ser de outra maneira
A alma é mais profunda que a pele
E lá, embaixo nela, todas, inevitavelmente
todas as esperanças do mundo me olhavam...
Procurei as palavras certas,
minha maneira de fotografar
transformar as imagens adverbiais
em fotografias que só as ideias podem ver...
Ai disparei, a luz numa insinuação
sorri contendo o instante,
eu resisti, os sons resistiram,
o instante resistiu, e eu só olhei...
Da ponta de minha breve caneta
da irresistível variação das letras,
aquelas tímidas instituições que de lá,
formam as palavras que fotografam as alma,
Eu insisti e escrevi seu poema.
San Rodrigues
olhei profundamente, não poderia ser de outra maneira
A alma é mais profunda que a pele
E lá, embaixo nela, todas, inevitavelmente
todas as esperanças do mundo me olhavam...
Procurei as palavras certas,
minha maneira de fotografar
transformar as imagens adverbiais
em fotografias que só as ideias podem ver...
Ai disparei, a luz numa insinuação
sorri contendo o instante,
eu resisti, os sons resistiram,
o instante resistiu, e eu só olhei...
Da ponta de minha breve caneta
da irresistível variação das letras,
aquelas tímidas instituições que de lá,
formam as palavras que fotografam as alma,
Eu insisti e escrevi seu poema.
San Rodrigues
NESTA FRESTA...
O tempo é assim,
aquele espaço entro o aqui
e o qualquer tempo.
Entre o qual nós, e nossas brevidades acontecemos
Houve um dia em que acordei,
me levantei e me debrucei
no parapeito da vida,
e entre um vagalhão e outro,
vi um mar de pessoas, que iam e vinham,
Voltei a me deitar, com medo,
tentando voltar a sonhar;
mas o sonho é um lugarzinho
que a realidade contesta,
neste espaço enorme que é o existir.
Mas bem, ter medo.
É a única explicação convincente
que a coragem encontrou
para enfrentar a eternidade do instante,
Este bloco, esta muralha,
que fica entre nós e o futuro,
essa coisa insistente
que acontece daqui a pouco.
E é ai nesta fresta,
entre meu berço e meu túmulo,
que insisto em acontecer,
deixando de ter tudo,
para possuir o que é essencial;
aquele olhar infantil,
sem lutar pela eternidade,
mas dono do instante infinito,
aquele adverbial espaço,
entre o aqui e o qualquer tempo.
Em que decido mostrar
os dentes e sorrir. Só isso.
Só assim. Por qualquer tempo.
Por existir.
San Rodrigues
SORRISO DE CANTO...
Ao ler o seu poema eu chorei...
Dessas lágrimas furtivas,
que quando saem chamam o passado,
numa dessas saudades guardadas
entre um dia frio e o casaco
entre o beijo e o abraço
entre a força e o cansaço
Seu poema não era um mistério,
não era barrocado, apenas dizia
que do outro lado da porta
sempre tem um sorriso é só abri-la...
Mas eu chorei por ter me esquecido
de sorrir nas tempestades destes últimos anos.
Não falo de risadas, destas escrachadas,
que explodem com os amigos,
mas falo destas discretas,
Que acontecem no sorriso
De um dia esquecido,
tão especiais, que os cantos da boca
só se dão ao trabalho de se erguer,
só um pouquinho, devagarinho
enquanto os olhos vão dando pulinho
lembrando do essencial,
de que os dias bons passam como os dias maus
e que daqui a pouco eu abro a porta
e de alguma forma será depois,
depois da dor, depois do amor,
depois da sede, depois da chuva,
depois de agora, depois de anos, depois da vida...
obrigado pela lágrima furtiva,
pelo sorriso de canto,
pelas palavras e todo encanto,
deste seu poema que me fez levantar.
San Rodrigues
Dessas lágrimas furtivas,
que quando saem chamam o passado,
numa dessas saudades guardadas
entre um dia frio e o casaco
entre o beijo e o abraço
entre a força e o cansaço
Seu poema não era um mistério,
não era barrocado, apenas dizia
que do outro lado da porta
sempre tem um sorriso é só abri-la...
Mas eu chorei por ter me esquecido
de sorrir nas tempestades destes últimos anos.
Não falo de risadas, destas escrachadas,
que explodem com os amigos,
mas falo destas discretas,
Que acontecem no sorriso
De um dia esquecido,
tão especiais, que os cantos da boca
só se dão ao trabalho de se erguer,
só um pouquinho, devagarinho
enquanto os olhos vão dando pulinho
lembrando do essencial,
de que os dias bons passam como os dias maus
e que daqui a pouco eu abro a porta
e de alguma forma será depois,
depois da dor, depois do amor,
depois da sede, depois da chuva,
depois de agora, depois de anos, depois da vida...
obrigado pela lágrima furtiva,
pelo sorriso de canto,
pelas palavras e todo encanto,
deste seu poema que me fez levantar.
San Rodrigues
ESSE LUGARZINHO...
Suponho que a verdade
é esse lugarzinho confortável,
em que nós e um grupo de
simpatizantes mal informados,
decidem acampar.
A verdade é assim,
este terreninho de profana sacralização,
em que nossas vaidades disputam
entre o absoluto desvario
e a irrelevância de ter razão,
Entregando-se a tolice
de ter achar que se está
olhando de cima para aqueles,
que só não abriram a porta
porque não tinham a chave;
Mas como negar o universo todo depois dela.
A verdade é este lugarzinho
em que empacotamos ideias
vestidas de palavras medrosas,
Cheias de vergonha de ficarem
nuas diante das perguntas.
Eu tenho inveja das ideias,
que não tem nenhum pudor
de tirar toda roupa
E mostrar seios murchos,
entranhas antigas,
admiro estas ideias,
que não temem os becos frios
das cidades fantasmas
de tradições dogmáticas,
aquelas mesmas mães
das inquisições que calam Galileu,
Mas Galileu não quer falar:
o Sol fala, a Lua fala e
a Terra não respeita o calendário Gregoriano.
O que são esses lugarzinhos
quando o universo não exige explicação.
Assim, me desfaço das minhas verdades;
eu, o outro, o dia, a vida, os sons, os sonhos,
a realidade, a morte, o passarinho,
o instante, a eternidade; Deus.
Me desfaço, pois a verdade
é esse lugarzinho, esse lugarzinho
tão demagógico que não cabe
o instante e a eternidade do passarinho,
que não cabem os sons do outro,
os dias do universo,
a morte do eu e a realidade dos sonhos de Deus,
pois é, suponho que a verdade
é esse lugarzinho confortável,
mas que não abriga ninguém,
por que, no fim, bem no fim,
ainda estamos muito mal informados
quanto a tudo, inclusive a verdade...
San Rodrigues
QUANDO EU SOUBER ESCREVER...
Quero um dia, um dia desses,
escrever tão bem, mas tão bem,
que alguém fique surpreso
com o jeito que a palavra está vestida
e não a reconheça, e se apaixone
por ela, a ponto de só descobrir
a noite, na mesa de jantar,
que ele já a conhecia desde que nasceu,
e não sabia como havia vivido
até então sem tê-la olhado
mais de perto.
Quero um dia, escrever tão bem,
que as palavras que estiverem
guardadas na ponta da caneta,
possam fazer rir, e com a ponta
de dedos infantis, fazerem cócegas
na sisudez, preconceito e nas intolerâncias
e qualquer que seja o dia,
soar como a alforria,
como a libertação das almas escravas
aguilhoadas por nós, por eu, por outros.
Há uma necessidade de eu então me distanciar para ver.
Pois quero assim, um dia escrever,
como quem leva homens ao Eldorado,
preciso apurar meu olhar,
me afastar e quem sabe ver.
Ver o homem sentado;
atrás dele, como encosto uma ameixeira,
mais antiga que todos os seus anos,
olhando tudo o que cresceu na fazenda,
olhando o sol se por,
as últimas nuvens douradas,
mandadas para algum lugar, pelo vento;
Dez ou doze pássaros gralhando
e arrevoando para um canto seguro;
à lua não liga, de na sua brancura,
esperar; tudo vai lentamente se movendo
e esperando; formigas, abelhas, moscas,
o carrapato no boi, uma sarna no cachorro,
o nariz escorrendo no moleque franzido,
que sonha pegar o galo, o futuro, num monte de dias.
A mulher que colhe a roupa para não ficar fria,
a vida que passa. A saudade de que não se escapa.
A brisa que vai escapando, desviando
e balança o cabelo do homem sentado embaixo da ameixeira,
fechando a carta, guardando-a no bolso, secando a lágrima.
Ah! Quando eu souber escrever...
San Rodrigues
A NOITE...
Eu desci a longa noite,
essa ladeira íngreme,
um milhão de passos
em alguns minutos trancados na hora.
Eu lacônico, fiquei diante do instante eterno,
devoto do silêncio, parado, ouvindo.
Enquanto a alma inclemente doía
e eu descia embrenhado na noite.
Lutei com uma noite,
acordei bom,
Lutei como homem contra sete noites,
acordei grande,
e foram mil noites que venci com a infância,
acordei importante,
Mas sonhei, me movi ousado
na direção de vencer todas as noites
e acordar insuperável.
Eu precisei te caminhado longamente
durante a noite,
para conhecer o preço do dia,
e ai, entre um lábio e outro,
entre o corpo e a idade,
entre o beijo e a saudade
de todas as coisas de ontem,
quando a noite era o único dia que eu tinha
e quando desejei ir até o fundo de mim,
não fui poupado do desafio que é sofrer.
As vezes precisei parar diante
do espelho do breu
e olhar para longe,
em algum lugar aqui,
para poder enxergar,
fui entre um cenho e outro franzido,
eu lacônico acabei vendo
quando o dia amanhece.
San Rodrigues
ENTRE UMA PALAVRA E OUTRA...
Deixe-me rir antes de falar,
mas é exatamente assim
este tal de Poeta, guardado calmo
na tempestade da própria alma.
Pega a caneta, a empunha
e desafia a lenta folha de papel,
com suas grades; a desafia,
à que ela liberte palavras antigas
e levante o tampão de buracos tristes
onde olhares em caixões foram mergulhados,
e pede para uma nova alma morar neles.
E este sujeitinho de caneta,
em calmo desespero,
faz um sol de fim de tarde,
sem nenhum alarde colorir as folhas do cipreste,
brilhar o trinado do pardal
e encher a água de dourado.
Faz o rio correr lento, sinuoso de saudade,
levando todo dia para outros lugares as margens.
Ele desafia o parto de substantivos fortes
em adjetivos estéreis,
ordenha verbos a movimentos e variações
que fazem dançar orações e versos.
Bem, essa figurinha com rosto de brisa
tem uma ventania nas mãos
e uma tempestade no olhar,
escreve; por que escrever
nada tarda,
no soneto nada falha,
no poema, apenas
tudo passa.
San Rodrigues
mas é exatamente assim
este tal de Poeta, guardado calmo
na tempestade da própria alma.
Pega a caneta, a empunha
e desafia a lenta folha de papel,
com suas grades; a desafia,
à que ela liberte palavras antigas
e levante o tampão de buracos tristes
onde olhares em caixões foram mergulhados,
e pede para uma nova alma morar neles.
E este sujeitinho de caneta,
em calmo desespero,
faz um sol de fim de tarde,
sem nenhum alarde colorir as folhas do cipreste,
brilhar o trinado do pardal
e encher a água de dourado.
Faz o rio correr lento, sinuoso de saudade,
levando todo dia para outros lugares as margens.
Ele desafia o parto de substantivos fortes
em adjetivos estéreis,
ordenha verbos a movimentos e variações
que fazem dançar orações e versos.
Bem, essa figurinha com rosto de brisa
tem uma ventania nas mãos
e uma tempestade no olhar,
escreve; por que escrever
nada tarda,
no soneto nada falha,
no poema, apenas
tudo passa.
San Rodrigues
PEÇAS FRÁGEIS...
As coisas que acredito e amo,
essas peças frágeis que bruxuleiam
entre a luz e a sombra,
quer eu saiba ou não,
já estão em mim,
esse lugar que é a borda
entre ser, entre o outro, entre a vida.
Mas nessa inversão,
nesse descobrir para depois aprender,
nós humanos, começamos como borboletas
e terminamos em casulos.
Os dias abriram uma fresta no meu casulo,
dessas que entram luz.
Minha alma é uma substância conhecendo,
e assim, somos todos,
momentâneos, de dias lacônicos
e tudo o que posso fazer
entre agora e um milhão de segundos,
é acreditar e acudir lugares em mim
que ontem ou amanhã percam o instante da fé.
Coisas que acredito,
essas peças frágeis.
San Rodrigues
essas peças frágeis que bruxuleiam
entre a luz e a sombra,
quer eu saiba ou não,
já estão em mim,
esse lugar que é a borda
entre ser, entre o outro, entre a vida.
Mas nessa inversão,
nesse descobrir para depois aprender,
nós humanos, começamos como borboletas
e terminamos em casulos.
Os dias abriram uma fresta no meu casulo,
dessas que entram luz.
Minha alma é uma substância conhecendo,
e assim, somos todos,
momentâneos, de dias lacônicos
e tudo o que posso fazer
entre agora e um milhão de segundos,
é acreditar e acudir lugares em mim
que ontem ou amanhã percam o instante da fé.
Coisas que acredito,
essas peças frágeis.
San Rodrigues
ABISMO DO POENTE...
Todos os dias entardecemos,
Lá por volta da metade de qualquer
uma dessas horas.
No abismo do poente
que carrega nuvens, pessoas
e as frágeis memórias,
todas tragadas pela imensa noite,
na beira da solidão e o silêncio enorme.
Desculpem, mas eu decidi por não passar,
mas não se iludam, não decidi ficar,
só insisto no movimento,
nesta vontade;
vontade que ergue séculos,
de coisas antigas
que estiveram nos olhos de meus ancestrais,
entre o vento e a queda do galho.
E dos olhos foram por dutos ao coração,
máquina que bombeia versos para a alma.
Sei que todo dia entardeço,
desde nunca, até agora,
e minha tarefa é me [I]repalavrear[/I],
rever os nomes e
entre um som e outro,
antes do entardecer,
me envolver neste projeto de construir silêncios.
De noite eu saberei o que eles significam,
depois do entardecer.
San Rodrigues
Lá por volta da metade de qualquer
uma dessas horas.
No abismo do poente
que carrega nuvens, pessoas
e as frágeis memórias,
todas tragadas pela imensa noite,
na beira da solidão e o silêncio enorme.
Desculpem, mas eu decidi por não passar,
mas não se iludam, não decidi ficar,
só insisto no movimento,
nesta vontade;
vontade que ergue séculos,
de coisas antigas
que estiveram nos olhos de meus ancestrais,
entre o vento e a queda do galho.
E dos olhos foram por dutos ao coração,
máquina que bombeia versos para a alma.
Sei que todo dia entardeço,
desde nunca, até agora,
e minha tarefa é me [I]repalavrear[/I],
rever os nomes e
entre um som e outro,
antes do entardecer,
me envolver neste projeto de construir silêncios.
De noite eu saberei o que eles significam,
depois do entardecer.
San Rodrigues
UMA DESSAS SAUDADES...
Minha saudade mais antiga
Dormia num sorriso,
desses, pelas razões mais tolas,
nos dias mais comuns.
Sorrir de um dia lembrar
de jogar pedras no rio.
Sepultá-la no silêncio.
Quantas mil histórias
uma pedra tem para contar.
Minha saudade mais antiga
trombou algumas vezes comigo,
lá pelas duas da manhã
e eu esbarrei em alguns silêncios;
alguma coisa se machucou em mim.
Soube disso, sim, já havia me machucado outras vezes,
mas chorar era reter uma coisa
que não cabe na retidão.
Assim, fui virando uma página e depois outras,
e mais uma,
devia estar ali, em algum lugar
dentro de minha ausência,
bem ali.
Entre perguntas e essa saudade,
como Blake, via através dos olhos
e não com eles.
Assim, minha saudade,
entre o dia e o sopro,
foi cercando todas as células do corpo,
meus dias guardados ali
e foi buscando, martelando,
tudo para abrir uma brecha na fortaleza da matéria,
tudo para me procurar,
tudo para me achar,
e quem sabe outra vez,
só mais uma,
quem sabe três, dez mil,
eu pudesse sorrir, um sorriso desses.
Tolos de saudade.
San Rodrigues
Dormia num sorriso,
desses, pelas razões mais tolas,
nos dias mais comuns.
Sorrir de um dia lembrar
de jogar pedras no rio.
Sepultá-la no silêncio.
Quantas mil histórias
uma pedra tem para contar.
Minha saudade mais antiga
trombou algumas vezes comigo,
lá pelas duas da manhã
e eu esbarrei em alguns silêncios;
alguma coisa se machucou em mim.
Soube disso, sim, já havia me machucado outras vezes,
mas chorar era reter uma coisa
que não cabe na retidão.
Assim, fui virando uma página e depois outras,
e mais uma,
devia estar ali, em algum lugar
dentro de minha ausência,
bem ali.
Entre perguntas e essa saudade,
como Blake, via através dos olhos
e não com eles.
Assim, minha saudade,
entre o dia e o sopro,
foi cercando todas as células do corpo,
meus dias guardados ali
e foi buscando, martelando,
tudo para abrir uma brecha na fortaleza da matéria,
tudo para me procurar,
tudo para me achar,
e quem sabe outra vez,
só mais uma,
quem sabe três, dez mil,
eu pudesse sorrir, um sorriso desses.
Tolos de saudade.
San Rodrigues
MOSAICOS...
Quantas calçadas andaram esses sapatos?
Quantos caminhos fizeram estes passos?
No dia que acordei,
foi tudo que pensei,
foi tudo que perguntei.
E há perguntas que nascem em tempestades,
em ventanias que sacodem os lugares
mais antigos da alma,
lá onde minhas coisas guardadas dormem.
Queria pensar por onde passei,
onde cheguei,
onde as horas podem me levar e encerrar o dia.
Bati e perguntei: Deus está?
Uma porta... De onde? Para que? Por mim?
Ainda assim entrei,
apertado lá dentro,
com homens, mulheres,
assim tão complicados, cinzentos, lentos,
e no fim da tarde vão,
tênues, singelos, frágeis
acabar com os pés descalços.
Enfim, só perguntei por queria
ser alguém no meu caminho.
E eu aqui do meu observatório,
tento entender essas coisas,
essas que insistem em nos coisificar,
mas eu não preciso entender para ser calmo, leve;
para ser leve só preciso respirar.
Aqui de meu observatório,
vejo-me no tempo passar,
e perguntando por onde passam estes passos,
vi quantas saudades fazem um abraço,
quantas lágrimas nublam o olhar,
quantos antes formam um depois?
Quantas dores fazem a paciência?
Quantas paciências esperam o próximo ano?
Quantos anos me deram a vida?
Assim, nem antes nem depois,
mas durante todos os meus passos
nas infinitas calçadas.
San Rodrigues
Quantos caminhos fizeram estes passos?
No dia que acordei,
foi tudo que pensei,
foi tudo que perguntei.
E há perguntas que nascem em tempestades,
em ventanias que sacodem os lugares
mais antigos da alma,
lá onde minhas coisas guardadas dormem.
Queria pensar por onde passei,
onde cheguei,
onde as horas podem me levar e encerrar o dia.
Bati e perguntei: Deus está?
Uma porta... De onde? Para que? Por mim?
Ainda assim entrei,
apertado lá dentro,
com homens, mulheres,
assim tão complicados, cinzentos, lentos,
e no fim da tarde vão,
tênues, singelos, frágeis
acabar com os pés descalços.
Enfim, só perguntei por queria
ser alguém no meu caminho.
E eu aqui do meu observatório,
tento entender essas coisas,
essas que insistem em nos coisificar,
mas eu não preciso entender para ser calmo, leve;
para ser leve só preciso respirar.
Aqui de meu observatório,
vejo-me no tempo passar,
e perguntando por onde passam estes passos,
vi quantas saudades fazem um abraço,
quantas lágrimas nublam o olhar,
quantos antes formam um depois?
Quantas dores fazem a paciência?
Quantas paciências esperam o próximo ano?
Quantos anos me deram a vida?
Assim, nem antes nem depois,
mas durante todos os meus passos
nas infinitas calçadas.
San Rodrigues
ESSA COISA DE FALAR...
Se soubéssemos olhar
Para que explicação?
Essa coisa de falar
Diminui a atenção
Inventamos as palavras
e depois as espertezas
dessas que controlam a alma
e definham as certezas
Durante todo tempo,
que a escola frequentei
procurava nas palavras
tudo aquilo que não sei
Li um, dois, três livros
desses, sobre sentimentos
tentando diminuir na alma
todo aquele sofrimento.
Devo dizer que aprendi
Muito sobre as ciências
Dessas que esfriam a alma
e afetam nossa essência
E demorei pra constatar
E mudar de opinião
que as coisas mais profundas
só se vê com o coração.
Eu li Saint-exuspery
li cada palavra com calma
sobretudo as que falavam
que só se vê bem com a alma
Ai então eu descansei
Dessas coisas de falar
e fui fazendo o exercício
nessas coisa de olhar
Olhei pedras e cascalhos
Até bolhas de sabão
tudo aquilo que eu tinha
não estava em minhas mãos
Devo dizer que fui feliz
em toda esta experiência
De olhar pra minha alma
e descobrir a minha essência
Olhei firme para a frente,
e procurei na imensidão
Algo maior que o instante
Pra encher meu coração.
Possuir era bobagem
Não havia o que ter
que enchesse a minha alma
de alegria de viver
Deixei a boca relaxar
e abri um bom sorriso
desses que fazem lembrar
que sem Deus eu não existo
Pensei eu que um dia
Deus sentado no seu trono
inventou a gargalhada
e me fez dela seu dono
Então eu só pude rir
e pensar com emoção
que agora além dos olhos
também tinha o coração
Esse antigo companheiro
tantas vezes esquecido
não importa quem eu fosse
estava sempre comigo
E curado da miopia
olhava apaixonado pra tudo
com esperança e com calma
tinha espaço o meu mundo
Sendo assim não é preciso
me dar muita explicação
tudo o que mais vale na vida
não cabe na minha mão.
Sobre o tempo que perdi
com essa coisa de falar
só entendi que toda vida
está guardada no olhar
Sendo assim, já terminei
com toda essa falação
tudo que quero,
por bom e muito tempo
é olhar calmo e intenso
pra dentro do meu coração.
San Rodrigues
DE VEZ EM QUANDO...
Eu me lembro, como me lembro.
As lembranças nos flagram
na próxima e duvidosa escrita,
esta esquina em que as palavras
nos esperam para flertar.
Eu me lembro do rosto do instante,
da risada do minuto,
dizendo que as horas não vão passar,
mas elas passam,
eu passo,
eu passei tantas vezes,
mas ainda me lembro.
E admito, que esta coisa de memória
é um lugar que não se encurva,
está sempre lá,
em todo lugar,
sempre em pedaços,
bela ou terrível.
Por isso não, ouso acreditar
que montei corretamente os pedaços das lembranças,
pequei cacos de riso,
restos de abraços,
olhares entulhados,
falas, falácias embaralhadas
em gestos e costumes
e chamei os dias de amigos
ou inimigos.
Bebi sem sede,
comi sem fome,
ri sem pressa no meio da tarde,
quando o sol é mais rude,
e afugentei-me de tudo o que não fiz apaixonado,
me esqueci do que os olhos não minunciaram;
quantos olhares não vasculhei.
Lembrei-me.
Lembro-me
e é um lugar que não escapo.
Ai respirei,
lá num lugar fundo,
e coloquei um rebanho de dias para pastar
em lugares que podiam comer horas novas,
novos sóis e luas,
queria ordenhar novas memórias,
lembranças de algum lugar que fica ali na frente
na beira do futuro,
minha casinha de palavras,
esse lugarzinho para onde tenho levado
todo material de minha construção;
risos novos,
amigos antigos,
saudades contemporâneas,
dores modernas
e amores medievais.
Eu ainda me lembro,
é tudo que posso fazer
de vez em quando.
San Rodrigues
O MOVIMENTO...
Se perdem manhãs, tarde e dias,
se perdem gestos, cartas de amor,
malas e chaves.
Se perdem vozes, cidades,
países e memórias,
se perdem amigos, irmãos e saudades.
Romances se perdem,
objetos são perdidos, histórias se perdem lá no passado,
sonhadores se perdem hoje,
perdi meu instante agora.
Se perde o que fomos, as imagens se perdem
e o que queríamos ser...
A árvore perde folhas,
o rio se perde no mar,
o mar perde barcos,
os barcos perdem marinheiros
que procuram peixes,
o sol perde a noite,
a água perde o fogo,
a leitura perde a inocência,
o inocente perde para a culpa,
o culpado perde para si.
A criança se perde na feira,
alguns perdem a vergonha,
os sonhos se perdem em algum lugar da realidade,
a realidade perdeu o afeto,
o cão se perdeu do dono,
os anos se perderam num segundo
e tudo vai assim,
mas não existe perda,
existe movimento.
San Rodrigues
NO DIA QUE VOEI...
No meio de mais uma das entediantes aulas de literatura,
meu dicionário caiu da carteira no chão,
e numa dessas coisa malucas da vida,
todas as minhas palavras se espalharam
e se misturaram,
fazendo todo universo dançar.
Dicionário é esse lugar sagrado,
disciplinador, que coloca as palavras em fila
e as manda andar para frases, orações, parágrafos inteiros.
Este lugar, o dicionário, é um pequeno campo de concentração de sentidos,
e as palavras não fazem estripulias,
mesmo por que, é só olhar onde está a palavra “estripulia”,
grudada na palavras “estripador”;
olha só que medo!
Quem vai fazer estripulia perto de um estripador?
Mas a palavras “estripulia”
fica olhando para as palavras que vem depois dela;
“estro”, “estrofe”, “estroina”,
palavras festeiras e que estão longe da palavra “estripador”,
elas fazem música, alcançam distâncias e são extravagantes,
mas na fila está a palavra “estropiar”,
que é cheia de vontade de fazer mutilações,
arrancar pedaços e parar corações.
Mas bem, quando o meu dicionário caiu,
fez uma bagunça,
acabou com a linha reta do quartel
e as palavras foram pra onde quisessem ir,
que coisa!
A palavra “vaca” pegou a palavra “voar” e esta lhe deu a palavras “asas”
e o verbo flexionou
e a vaca bateu asas e voou.
A palavra “tristeza” sentou e conheceu a palavra “esperança”,
e trocaram alguns minutos de conversa como o verbo “fracassar”
e outros se juntaram a conversa;
os verbos “levantar”, “andar”, “correr”, “sonhar”;
e aquela turma, que não costuma se encontrar,
se encontrou, e a palavra “insistir”,
olhava tudo com a certeza de que valia a pena.
A palavra “bolha” encontrou o substantivo “sabão”,
e numa coisa comum, foi subindo e
a palavra “menina” pegou o verbo “correr”,
e usou muito as palavras “brincar” e “feliz”,
só assim para a palavra “sorriso” ficar dançando
e pulando na palavra “infância”.
Devo dizer que até aquele momento
as coisas andavam gramaticais demais para mim
e eu me desortografei
e comecei a me repalavrear,
e ai bastou-me o instante, essa fagulha.
Fui incendiado nesse lugar da alma que remonta a ancestrais,
donos de algumas palavras;
Kafka com seu besouro, Cervantes com seus moinhos,
Hemingway com seu mar, Dante com seu paraíso,
Flaubert com seu século, Dumas com seu Monte Cristo;
eu decidi ter minha palavra e libertar outras,
sim a conclusão faz parar o fluido pensamento,
mas a conclusão por vezes é o crime contra as ideias,
ai eu mergulhei entre palavras guardadas no silêncio,
aquelas que me assustavam,
e ai peguei a palavra “porta”, e coloquei na palavra “alma”.
E abri;
peguei a palavra “caminho” e coloquei na palavra “deserto”.
E andei;
peguei a palavra “casulo” e coloquei na palavra “futuro”.
E voei.
E vi quando voava todas as palavras olhavam para mim.
Só fiz voltar,
abaixar e pegar meu dicionário,
sorrir brevemente,
respirando profundamente,
numa dessas coisas malucas da vida.
San Rodrigues
ESSA COISA DE PERDOAR...
Era uma torre,
um silêncio,
um abismo,
uma nuvem;
Era um instante,
um calar,
um jasmim,
um perfume;
Era um discurso,
um sorriso,
um chorar,
um inimigo;
Era uma mão,
um calar,
um sussurro,
um abrigo;
Era um amar,
um voltar,
um dizer,
um parar;
Era um ir,
um caminho,
uma chance,
um olhar;
Era uma noite,
um dia,
uma hora,
um segundo;
Era uma flor,
uma brisa,
um estranho,
um intruso;
Era um sim,
um passado,
uma história,
um acaso;
Era um ontem,
um hoje,
um perdão,
um abraço;
Era um eu,
um você,
um pedido,
um amparo;
Era uma vida,
um minuto,
um amigo,
um cuidado.
San Rodrigues
MINHAS ASAS...
Acordei entre o idílio e minha vida,
dessas coisas guardadas no espanto.
Mirei a palavra contra a noite fria e atirei;
esperei ver o que caia,
quem caia
e quando a palavra violou o coração de todos os meus anos,
todos os meus choros sangraram,
e o olhar dilatou.
Ter coragem não é não ter medo,
e o contrário também não.
Fiz um instante de queda,
desses que nunca chegam ao fundo
quando a noite desce no meio do dia,
e eu olhei bem dentro nela,
dentro de seus olhos antigos,
eu acendi uma luz amarela,
uma vela antes que o sol brilhe
e me sentei calmo,
com a calma tempestuosa da lagarta nos dias de casulo,
rasgando a fresta do voo.
Só estava sentado.
Mas chamei minha alma de borboleta
e chorei para subir do lugar fundo da dor,
minhas asas eram tudo,
os lugares traiçoeiros e inexplorados da vida,
que não se encontram nos continentes ou nos mares;
e no universo não cabem as infinitudes do coração,
cada pergunta é a linha de Zenão,
cada resposta é um senão,
cada instante um desespero,
cada brevidade o tempo inteiro
e eu aqui em qualquer uma destas horas
faltando cinco minutos para depois de tudo,
eu aqui olhando para o teto do meu quarto.
San Rodrigues
SOBRE ESSA COISA DE VIVER...
A breve faceta desse grão é sua existência,
no aflito orvalho que resolve o problema da manhã.
O instante se dá,
quando por um instante prestamos atenção nele.
Olhei o grão e sonhei com a colheita,
dormi com a palavra
e acordei com o poema.
Que grandes passos nós damos no tempo,
mas nós homens, somos só pensamento,
no meio desta chuva de saudade.
O que é o tempo para termos a presunção de possuí-lo?
Bem, o tempo são só memórias,
a breve faceta deste grão.
Pensei sobre o grão
o que ele pensou sobre mim;
há um pedaço desconhecido de todos nós,
na mente que nos pensa,
e ai me movi na direção da metáfora
e ela me olhou como quem olha pra saudade.
Eu sou o grão
e me joguei no canteiro para morrer por inteiro;
eu sou o intervalo
entre o que eu digo e o que calo,
e tenho em mim os passos que insistem no caminho,
este sentido íntimo das coisas.
Que triste se eu semente
não souber morrer;
a breve faceta desse grão.
Minha dor é mais velha que as palavras,
não há quem explique,
não há quem entenda.
Só silêncio.
Mas é preciso silêncio
para ouvir as batidas do coração.
San Rodrigues
TU POETA...
Tão sossegado quanto mil anos,
Tão triste quanto o domingo,
Tão aliviado quanto um sorriso,
Tão deslumbrado quanto o ator,
Tão desagradável quanto o altivismo,
Tão desonesto quanto o ecletismo,
Tão indispensável quanto o inimigo,
Tão saboroso quanto o amor,
Tão imóvel quanto o infinito,
Tão ágil quanto um mosquito,
Tão só quanto um abismo,
Tão longe quanto valor,
Tão ser quanto eu...
é tu poeta!
San Rodrigues
ESSA BEIRA DO MUNDO...
Não tenho um milhão de respostas,
como você supôs eu ter.
Não sei quantos céus existem,
como você achou eu saber.
Nunca soube a distância do caminho,
como você previu que eu soubesse,
e sobre essa coisa de chorar,
nunca soube de onde as lágrimas nasciam.
Perdoe-me, seja lá quem for este vilão
que diz esquecer dos pecados.
Eu fui só um sonhador,
desses que se levantam pela manhã
e acham que conseguiram
domar as horas e enjaular o dia;
quantas vezes adernei do estranhamento ao entranhamento.
Eu só fui um desses pulmões frágeis
que ficavam sem ar diante de uma flor;
meu corpo nunca teve as mesmas ideias que eu.
Eu sorria, e diante do sorriso tudo para,
o sorriso é a manifestação dos lábios,
quando os olhos olhos
encontram o que o coração procura.
É assim um doce milagre,
um instante infantil
quando nos sentimos maiores do que a vida,
mas longo tempo não significa para sempre.
Perdoe-me, eu só fui dois olhos,
este par de vagalumes procurando
procurando traduzir o intervalo das coisas,
esta impetuosidade que as pálpebras conseguem controlar,
por que não posso empurrar o rio.
Perdoe-me seja lá que for o dia seguinte,
essa porta por onde todo tempo foge
e me dissolve,
eu este poeta de coisas tão pequenas,
essa beira do mundo.
A minha alma foi resumida
em poucas partes insignificantes.
Me perdoe, seja lá o que for esta palavra,
por que no fim,
lá, bem no último instante,
tudo são palavras,
uma atrás da outra,
sentenças, perguntas, afirmações
e então vou desconfortável
dentro desta existência,
desta curva acentuada até daqui a pouco.
Então, se for possível, me perdoe,
se posso assim chamar,
este momento difuso, profuso,
completo,
longínquo.
San Rodrigues
como você supôs eu ter.
Não sei quantos céus existem,
como você achou eu saber.
Nunca soube a distância do caminho,
como você previu que eu soubesse,
e sobre essa coisa de chorar,
nunca soube de onde as lágrimas nasciam.
Perdoe-me, seja lá quem for este vilão
que diz esquecer dos pecados.
Eu fui só um sonhador,
desses que se levantam pela manhã
e acham que conseguiram
domar as horas e enjaular o dia;
quantas vezes adernei do estranhamento ao entranhamento.
Eu só fui um desses pulmões frágeis
que ficavam sem ar diante de uma flor;
meu corpo nunca teve as mesmas ideias que eu.
Eu sorria, e diante do sorriso tudo para,
o sorriso é a manifestação dos lábios,
quando os olhos olhos
encontram o que o coração procura.
É assim um doce milagre,
um instante infantil
quando nos sentimos maiores do que a vida,
mas longo tempo não significa para sempre.
Perdoe-me, eu só fui dois olhos,
este par de vagalumes procurando
procurando traduzir o intervalo das coisas,
esta impetuosidade que as pálpebras conseguem controlar,
por que não posso empurrar o rio.
Perdoe-me seja lá que for o dia seguinte,
essa porta por onde todo tempo foge
e me dissolve,
eu este poeta de coisas tão pequenas,
essa beira do mundo.
A minha alma foi resumida
em poucas partes insignificantes.
Me perdoe, seja lá o que for esta palavra,
por que no fim,
lá, bem no último instante,
tudo são palavras,
uma atrás da outra,
sentenças, perguntas, afirmações
e então vou desconfortável
dentro desta existência,
desta curva acentuada até daqui a pouco.
Então, se for possível, me perdoe,
se posso assim chamar,
este momento difuso, profuso,
completo,
longínquo.
San Rodrigues
LÁ DE CIMA OLHEI...
Tentei um suicídio,
numa destas tardes de poeta,
subi numa destas palavras altas,
que chegam perto do céu.
Desculpem a confissão,
mas não poderia ser diferente;
fui motivado por um destes poemas ousados,
destes que nos falam no pé do ouvido:
“você pode”!
Subi insistentemente,
com a alma inclemente,
por que o poema,
de olhar despudorado,
me disse firmemente
que para ser poeta,
não posso ficar no colo da vida
com medo da morte iminente.
Bem, aceitei e subi a palavra
por que a palavra estava lá.
Escalei o coração verde dos pássaros,
a alma das bolhas de sabão,
o sorriso das bexigas,
ouvi histórias de pedras antigas
e vi muitos corações, muitos;
tristes, alegres, saudosos, infantis, austerosos, indomáveis,
desses cheios de luxúrias e saudades de ontem.
Mas antes de subir,
o poema me avisou,
que se subo na palavra,
não volto mais como sou,
eu sorri e entendi,
ele falava sobre esta coisa de mudar,
esta coisa que acontece ao poeta,
quando fica exposto aos neutrinos gramaticais,
a essa neblina de pronomes
que escondem os ninhos dos grandes verbos
e até onde chegam as raízes dos substantivos mais robustos.
Assim, fui subindo, me apoiando em saudades,
pisando em mágoas
e me agarrando a esperanças,
e estava lá.
De lá, a visão é surpreendente,
destas coisas de pasmar,
vi toda a minha vida,
só não conseguia respirar;
o poema se aproximou de mim,
e me pediu para chegar até a borda,
e eu lhe respondi que tinha medo,
ele insistiu que eu chegasse a borda,
eu cheguei,
ele me empurrou,
e eu voei.
San Rodrigues
MIL PALAVRAS...
Quando abri o dia,
haviam mil palavras ali dentro;
dessas que escrevem a vida
num lugar em mim
onde dormiam fúrias.
Lentamente o passo se formou
e movi meu corpo sobre a estrada das horas,
nessa coisa de querer chegar.
Meu ventre fremia,
sobre a folha de papel,
numa rebelião da geometria
contra o vazio pautado.
Gritei!
Lá no enorme silêncio;
no miasma de mil nomes,
mil coisas,
mil tempestades no meu céu,
nesse dossel cinéreo;
chamei a deusa memória,
essa traiçoeira.
Mil palavras acordaram;
o silêncio é puro,
as palavras não,
eu não.
Firo a eternidade matando o instante,
essa coisa fugaz;
mas a eternidade continua e passa por mim.
Eu fugaz.
Peguei cada palavra
e afiei contra a aspereza da saudade,
insisti em cada verdade.
Eram mil chances.
E então desesperado e afoitamente,
no meio do texto,
escrevi a palavra e deixei nascer o pensamento,
a serena elegância das ideias.
O instante abriu seu leque.
Lembrei-me de ter comido o pão que Deus amassou
e andaria pelas próximas quarenta palavras,
escondendo na ponta de minha caneta
o momento suave;
quando o instante virou poeta
e o poeta por um instante viu toda a vida
e com ela estava costurada as mil palavras do dia.
San Rodrigues
haviam mil palavras ali dentro;
dessas que escrevem a vida
num lugar em mim
onde dormiam fúrias.
Lentamente o passo se formou
e movi meu corpo sobre a estrada das horas,
nessa coisa de querer chegar.
Meu ventre fremia,
sobre a folha de papel,
numa rebelião da geometria
contra o vazio pautado.
Gritei!
Lá no enorme silêncio;
no miasma de mil nomes,
mil coisas,
mil tempestades no meu céu,
nesse dossel cinéreo;
chamei a deusa memória,
essa traiçoeira.
Mil palavras acordaram;
o silêncio é puro,
as palavras não,
eu não.
Firo a eternidade matando o instante,
essa coisa fugaz;
mas a eternidade continua e passa por mim.
Eu fugaz.
Peguei cada palavra
e afiei contra a aspereza da saudade,
insisti em cada verdade.
Eram mil chances.
E então desesperado e afoitamente,
no meio do texto,
escrevi a palavra e deixei nascer o pensamento,
a serena elegância das ideias.
O instante abriu seu leque.
Lembrei-me de ter comido o pão que Deus amassou
e andaria pelas próximas quarenta palavras,
escondendo na ponta de minha caneta
o momento suave;
quando o instante virou poeta
e o poeta por um instante viu toda a vida
e com ela estava costurada as mil palavras do dia.
San Rodrigues
QUANDO O DIA ENVELHECE...
Me encontrei nos teu olhos.
Ontem,
é o verbo foi,
amanhã,
para alguém será,
somente agora é,
essa coisa do hoje.
Mas o dia envelhece,
na morte de um minuto e outro,
neste cemitério de horas,
e tudo que faço é te procurar.
Onde já se viu,
essa coisa de poeta se apaixonar?
Perder o coração em algum lugar desse amar
e ficar a procurar?
Mas para o poeta mentir é tão fácil,
iludir é tão rápido,
sonhar é tão terno,
e chorar é tão bom...
Fácil não!
Fácil nada!
Me mostre um poeta na fácil estrada,
e mostrarei que sua poesia não vale nada;
sem essa dor e essa procura toda
sua poesia é uma dessas coisas de alma obscura.
Mas tu bendita lágrima,
essa inundação que afoga a dor,
nas noites frias do sofrimento,
a lágrima é a síntese do orvalho divino,
por que vai haver uma manhã de redenção.
Por isso tenho saudade,
essa coisa de quando momento tenta fugir da recordação
para aparecer de novo e não consegue.
Onde estou nos seus olhos?
Não se surpreenda de eu não parar de procurar,
tudo que tenho nessa alma de poeta
é a vontade de achar;
tenho procurado em Magritte e Degas,
Schulmann e Ravel, Moliére e Kandinsk,
no Bandeira e Manuel,
mas você estava embaixo da pele,
bombeada por meu coração,
e foi nos meus olhos que te encontrei,
nessa coisa de olhar.
San Rodrigues
NO DIA DE ACORDAR...
Era uma vez,
Quando esta história nasceu,
num tempo em que os seres humanos
ainda choravam de saudade.
O pequeno menino ouviu seu pai chamar.
A voz dos pais chamam os filhos
lá de um lugarzinho secreto na alma.
Seu pai o olhou em silêncio,
e é assim,
dizem que o silêncio tem sua maneira de dizer as coisas.
Com uma mão trouxe a criança
e com a outra lhe trouxe uma laranja em tampo.
O menino sorriu,
o pai sorriu,
o dia estava sorrindo
e um caroço da laranja caiu, livre;
toda uma lavoura
naquela alminha branca
e o chão a abraçou.
O instante passou,
outros vieram,
dias vieram,
sóis e luas vieram e foram.
O silêncio disse algo sobre a semente
e ela ouviu.
Acordou.
O pai se foi,
o menino cresceu e se formou pai,
e a semente seguiu lenta,
tímida
e foi se levantando forte,
venceu a casca, a terra e os anos,
chuvas, folhas, pardais,
e assim, o dia seguinte
dos dias seguintes,
mostrou seu poder.
Dias amigos e inimigos da semente.
Assim, a semente venceu
e se orgulhou do trabalho de ter raízes
e o sonho dançava suave na realidade.
Mas em árvore grande,
uma festa de laranjas,
ela ainda tinha a honra de se chamar semente,
e lá embaixo, o menino homem,
limpava a boca, num sorriso de paz,
lembrando do pai.
San Rodrigues
VENTOS DO LADO DE FORA...
Que saudades de meus próximos anos,
dessas que nascem nas coisas futuras,
nas coisas do futuro:
Sorrisos que virão,
abraços que virão,
saudades que virão.
E eu, só,
gostaria de me fazer companhia lá,
naquela cabaninha que os otimistas chamam de futuro.
Por favor poeta...
O que é esta entidade?
O futuro?
Será que ser feliz cabe lá?
Algumas pessoas,
dessas que fazem cercas e criam conceitos em cativeiro,
Eu segurei o riso,
por que há aqueles que rastejam por dentro,
sem que os ventos
que ventam do lado de fora
possam ver,
retirados profundamente para dentro de si mesmos.
Mas entre essas saudades que apertam,
creio no riso e na lágrima
e faço parte desta casca de nóz
e ela me torna perplexo,
por que é isso que somos,
perplexidade.
A morte vem de longe,
vem do futuro
e nos espera em algum desses lugares
lá por detrás de algum sonho ou plano,
na dobra do tempo
esse vilão que me encosta na parede
e me diz:
“Conquiste todos os relógios do mundo, mas nunca terás o tempo”.
San Rodrigues
MEU LADO DE FORA...
Todos nós somos solitários,
é tolice não pensar assim;
peles antigas,
dentes antigos,
sorrisos passados,
esta brevidade,
que nos próximos anos fará valas nos rostos.
Aqui dentro sou um mar de Baco,
uma tempestade vaidosa,
dessas que fazem rótulos
e dão nomes aos amigos.
Até que um dia
sai ao me lado de fora
e ia tão longe meu mais próximo vizinho.
Todos nós somos solitários, que tolice.
Espadas procuram corações,
paisagens procuram olhos,
templos procuram o sagrado
e minha solidão procura a mim.
Quanta procura entre um encontro e outro.
Sorrisos antigos,
brevidades passadas,
mas lá, naquele lugar sutil dos olhos,
brilha uma luz nova,
emoções da alma
que encontra um veio de água no deserto,
uma pequena fonte
e naquele instante a vida se sacia.
Mas não se pode levar a fonte do deserto;
a aridez precisa dele;
lembrei-me que meu olhos,
precisam de uma lágrima.
Não posso levar a fonte nas mãos,
mas ela cabe inteira em minhas memórias,
este lugar prosador.
Todos nós somos solitários,
e nesta medida os anos se vão
espalhando a vida em fragmentos que cabem em um segundo,
neste que usamos para amar,
morrer e quem sabe
decidir por mais um segundo de vida.
Todos nós somos solitários,
e quanto a isso não cabe discussão.
Somos essa fome depois da refeição,
essa sede que os rios não resolvem,
essa viagem que não cabe no universo.
Assim, nesse soçobrar
entre a boca meio aberta
e a palavra nunca dita,
me lembrei que fiquei ali,
sentado na beira do caminho,
esperando-me buscar depois de tanto tempo,
por que é assim que tem de ser;
todos somos solitários,
mas eu sempre me esperei vir,
no meio do meu sangue,
entre um gesto e o outro,
um átimo.
Cada instante tem sua história
e todos somos solitários.
San Rodrigues
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Letras e Atos...
Este espaço é um ensaio para a escrita fotográfica, aquela que vê a cena e provoca as palavras para que possam construir a metáfora da imagem.
Gravando as imagens do diálogo, dos gestos, dos paragrafos, do detalhe nos verbos, em assustadores substantivos e adjetivos maleáveis... que possam traduzir emoções guardadas num lugar secreto.
San Rodrigues
Gravando as imagens do diálogo, dos gestos, dos paragrafos, do detalhe nos verbos, em assustadores substantivos e adjetivos maleáveis... que possam traduzir emoções guardadas num lugar secreto.
San Rodrigues