Toda alma é assim
relutante nessa coisa de dilatar,
ela em medo de perder o corpo,
não ter onde morar,
foi assim comigo
antes do acordar e o sonho,
quando dentro desta calma desesperada
eram tecidas minhas asas,
uma palavra que não se divide.
Devia ter ouvido mais sons,
comido mais gostos,
olhado mais longe,
pisado com força,
andado leve no meu dia,
que não era bom nem ruim,
era triste.
Mas é assim que a alma dilata
nesse adultério com a dor e a respiração;
e eu com a ponta da caneta
escrevendo, escrevendo,
matando, sim, matando a indiferença,
a preguiça,
o conformismo,
esse lugar vulgar.
Me levei para bem longe,
lá onde nasce o rio,
lá onde as regras se abandonam,
lá onde sobro eu e a gota do dia,
lá onde o eterno ontem,
hoje dura um segundo,
por que as coisas existem
mesmo quando não estamos
olhando para elas.
Algumas um punhal,
umas um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
E minha alma a dilatar,
com medo de encontrar,
de conhecer o fim do dia.
Mas mês ou outro
tenho de sair mais cedo do conflito
e visitar o brilho de meus olhos,
muitas esperanças moram lá,
grávidas de sonhos,
que conheceram meus passos
e não desprezaram meu caminho.
Enquanto a alma dilata
me pergunto se a vida realmente existe,
ou se eu preferi assim.
Sorrio.
Porque tudo que dói,
é por que a alma dilata.
San Rodrigues