Quando amanheci,
abri os sonhos e acordei.
Tomei um banho de amanhecimento,
penteei alguns entendimentos
e emotividades.
Experimentei duas ou três máscaras,
mas me vesti de anarquia
e depois de uns goles de desespero,
folheei todas as inquietações do dia.
Nenhuma Novidade.
Respirei até o nó da garganta,
um mistério antigo,
no lugar mais fundo de meus olhos.
Fechei os olhos.
Tranquei a alma e sai.
Segurava nas mãos
todos os segundos que eu podia,
todos os que eu achava e invadia.
Mas foram escorrendo.
Apertei as mãos
e o futuro derretia debaixo do presente,
embaixo de meus pés.
E meus pés reformavam os passos
e não parei até andar mil pensamentos
e parar frente ao despenhadeiro,
no ponto exato,
que a vida me pergunta
o que de fato quero.
Fiz um tumulto em mim.
Eu não.
Minhas memórias que se esfregam,
se faíscam,
se incomodam
e parem poesias bastardas.
Desci meus subúrbios,
nos becos mais marginais
de certos sonhos a procura dela.
A resposta!
Depois de uma era que engaiolei no minuto,
pedi que ela se casasse
com meus distúrbios.
Ela se casou e desentranhou
o dia seguinte inteirinho
na porta do meu espanto
e nunca mais me assustei
com aquilo que chamam de “fato”.
Fui ao despenhadeiro e lhe disse.
Só lhe disse.
Foi tudo que lhe disse.
Que eu queria ser eu,
apaixonado,
leve e entusiasmado.
O despenhadeiro olhou interessado
se inclinou e se jogou em mim.
Chorei um temporal esparso
e tive meu próprio arco-íris
antes de qualquer dia terminar,
de eu terminar,
da vida desligar
e o sol apagar.
Deus estava aqui.
O sabiá sabia.
San Rodrigues