Não tenho dúvidas,
não!
De que no fim
de qualquer coisa
e no início de qualquer outra,
há espaço para um poema.
Mesmo que seja desses
breves,
pequeninos
e empertigados de ousadia,
ele vem
e insinua nascer ali na fresta
entre um muro que proíbe sonhos
e uma calçada que insiste nos passos.
Não tenho dúvidas,
de que entre a ida e a vinda
há espaço para um destes poemas,
de que no fim de tarde,
um destes poeminhas despretensiosos
avise que a noite não é
a coisa mais longa do dia,
de que um dia
as coisas mais longas
acabarão,
de que acabar é a maneira
que a vida encontra
de começar outros capítulos.
Não tenho dúvidas,
de que um destes poeminhas despretensiosos,
é cheio de dúvidas simples,
daquelas que fazem
o pintor olhar o pincel
e pensar em quais árvores há ali,
se há um rosto chorando
ou apenas um sorriso.
Dúvidas destas que fazem o músico
ir para a beira do abismo
de uma nova composição,
pular e voar.
Dúvidas que empurram
o apaixonado
para o “eu te amo” gaguejado,
perto dos túneis
que levam à certos labirintos do coração.
Assim,
não tenho dúvidas
de que este poema discreto
e convicto
fica na brecha
entre o devaneio
e a saudade inesperada,
entre o ladrão e todas as coisas
roubadas de sua alma,
entre o político
e o medo que teve das promessas
que cumpriu,
entre o poeta,
esta entidade,
que mora entre a palavra
e o assombro de tudo
o que na palavra pode conter,
que naquela manhã
acordou
sem nenhuma dúvida
sobre aquele seu poema
despretensioso.
San Rodrigues