Espaço Idílico...

LEITORES...

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Olá...!

Estes poemas são lugares de minha casa emocional... sintam-se a vontade, estiquem as pernas e pensem em lugares da vida que pertencem as coisas da alma...

Sandro A.

Poetas e Escritores do Amor e da Paz

22/10/2011

OLHOS SECOS...


Acordei com olhos secos,
levantei-me e olhei
a dissimulação das manchetes,
olhei o cinismo das máscaras,
o fingimento das maquiagens;
olhei metros de mentiras;
com olhos secos.
Olhei a ilusão das aquisições,
olhei deduções lógicas
com olhos secos.
Fui para a beira do abismo
e pulei com olhos secos,
voei com olhos secos,
amei com olhos secos,
duvidei, sofri, perdoei
e esqueci, com olho secos.
O dia passou,
a noite chegou
e eu com olhos secos,
nadei no breu com medo
e olhos secos,
tive raiva, amor e sono
com olhos secos,
dormi pensando nos céus,
sonhei com infernos
e as asas da melancolia
me escureceram com olhos secos;
assumi os dias
e o fim com os olhos secos.
Vi planetas, sóis, estrelas;
Todos os mundos com olhos secos.
Vi o passado,
vi o futuro,
vi quando o tempo acabou;
com olhos secos,
e o dia amanheceu.
Levantei e olhei.
Uma flor nascendo se contorceu
na brecha,
e simplesmente
o verde venceu.
Eu chorei.

San Rodrigues

PALAVREANDO...


Poeta que é poeta,
não tenta empurrar
um monte de texto para dentro dele.
Ele fica toda hora
se cesarizando
ou em partos naturais,
para trazer os textos
que estão em sua alma
para o lado de fora,
aqui onde a gente está.
Se não é poeta
a palavra é um acessório,
mas se é,
ela é extensão da própria alma,
alquimiando no olhar,
descansando nas pontas dos dedos,
pedra jogada no lago do papel
e eu em circunferências marolantes.
Por que eu pensava se poeta,
quem não conseguisse
escalar mais as palavras;
Ainda bem que mordi
todas as minhas línguas,
por que o poeta
não escala as palavras,
ele as ala para voar.
Escreve um deserto,
dentro dele escreve
um lugar bem verde
e capricha no substantivo azul,
põe um adjetivo e o deixa bonito,
e põe no céu,
pega o rio, poe um verbo
e o faz correr,
da corda nos pronomes
e escreve minhas árvores,
meus pássaros,
nosso vento,
essas folhas levitando,
e faz os artigos recitarem o amor,
a saudade, a tarde fria,
a cabaninha,
o velhinho e a pescaria.
Bem,
poeta que é poeta,
não admite só a vida
por isso escreve,
para a eternidade ler,
depois morre de viver.


San Rodrigues

AMPULHETA...


Só temos o instante,
essa unidade cálida
que cabe um mundo.
Não precisamos de mais,
pois é tudo isso que
nós, as árvores e o mar somos;
é isto que é o universo;
é isso que é a gota na ponta da folha;
instante.
Agora entendo o poeta;
não existe a eternidade,
existe o instante,
e que ele seja eterno enquanto dure,
para caber nele amor,
a saudade,
minha vida,
a formiga,
a vespa azul,
os desafetos,
minha casa,
aquela rua,
outro amigo,
tantos dias,
mês que vem,
anos passados,
a novela,
a flor amarela
e outro amanhecer.
Ai eu fotografo,
só para tentar deter o instante;
pois é,
eu este instante tolo,
com um milhão de fotografias
escapando do casulo para voar,
porque a poeta viu
este instante-borboleta voar.

San Rodrigues

PEDRAS DO MEU QUINTAL...


As pedras do meu quintal
assistem solenemente
enquanto meu tempo passa,
são átomos frios.
Pedras são como o passado,
nunca mais se movem,
são antigas construtoras de masmorras,
mas se jogam em lagos,
acertam laranjeiras,
dançam nas mãos
e acertam pecadores.
Quem não tiver pecado,
que as atire.
Os céus nos apedrejam,
essa é nossa ilusão,
são nossas pedras,
aquelas que lançamos nos pássaros,
por que tememos os que voam.
Tenho inveja das pedras;
não tem alma,
não tem saudade,
não envelhecem,
não morrem
e numa altura da vida
tomam o lugar do coração,
mas o meu coração de pedra
me traiu
e um dia desses transubstanciou
em uma dessas arrevoadas teológicas
e acordou em carne viva,
doeu,
mas me lembro que sorri,
nessas trapaças do coração de carne.
Mas ainda invejo
as pedras de meu quintal.


San Rodrigues

FISSURA...


O relógio
sempre ali,
mas o tempo
pra antes
e depois dele,
e ele apenas
marca o fragmento.

San Rodrigues

MEU PAPEL...


O poeta pega o amor
que está nas coisas,
na alma,
na flor
e no peão
e os escreve para brincar.

San Rodrigues

R.I.P...


Ele se levanta,
vai ao armário
pega um copo,
vai a geladeira
e o enche com água gelada
até a metade,
volta a sentar-se,
olha o copo e se inquieta
com a água pela metade
e pensa se o copo está
quase cheio
ou quase vazio.
Aqui jaz um poeta.

San Rodrigues

O DESEJO DO POETA...


O desejo que move o poeta não é
ensinar, esclarecer, interpretar.
Isso é coisa da razão fria.
Seu desejo é
provocar sons esquecidos,
cores que a luz não alcançou,
o cheiro dos anjos,
os gostos da brisa,
a maciez da palavra
que faz o coração
bombear paixão
para as pernas andarem
até o fim da frase,
espantarem o momentâneo
e semearem horizontes.

San Rodrigues

FORMA ONDULAR...

Lá na beira de todo mar,
as ondas chicoteiam a areia,
vem e vão
em verdadeiros azorragues.
E pedi ao vento
que segurasse uma para mim,
dessas marrentas
que tombam caravelas
e vêm de longe contar histórias,
mais antigas
de tantos mares,
de tantos fundos
e sepulcros de saudade;
por que quando a saudade morre,
vai me enterrar no mar;
foi exatamente o que a onda me contou;
disse que lá Deus,
na viração do dia
lança esses nossos pecados indomáveis
e nos manda ir em paz,
mas contei a onda
que meus pecados são meu próprio mar,
e minhas ondas
e só Deus as pode acalmar.
Bem,
contei às ondas minha vida,
e quando terminei minha história,
já era a milésima geração das primeiras ondas,
por que é assim que aprendi a respirar.
Numa forma ondular.


San Rodrigues

ETERNIDADE...

Enchi minhas palavras de ar.
Elas foram subindo
lentas, leves,
mas não vazias,
pois levavam a voz do meu olhar,
esse falador coruscante.
E elas
lentamente foram espocando,
uma depois de tantas outras,
e eu as olhava pasmo,
para sua momentânea eternidade.


San Rodrigues

CINZAS...

Criei palavras,
as domestiquei com a ponta
de minha caneta.
Alimentei-as com filosofias iluministas,
teologias neoliberais,
lhes ensinei dadaísmo,
e lhes provoquei Baudrilard.
Levei-as ao bordel
e lhes mostrei quando o amor acaba.
Contei-lhes sobre a dor,
lhes tirei os adjetivos
e lhes dei substantivos cruéis,
e lhes falei sobre quando o mundo é impossível,
levei-as aos meus abismos
e meus pináculos,
deixei-as morrer na gaveta
e ressuscitar no deserto
as quatro da madrugada
de qualquer hora.
Tirei-lhes as sílabas,
impedi seus artigos,
anulei seus pronomes
e apaguei suas desinências.
E quando pensei que era o fim delas,
nasceram das cinzas
no livro de um poeta. 


San Rodrigues

Letras e Atos...

Este espaço é um ensaio para a escrita fotográfica, aquela que vê a cena e provoca as palavras para que possam construir a metáfora da imagem.
Gravando as imagens do diálogo, dos gestos, dos paragrafos, do detalhe nos verbos, em assustadores substantivos e adjetivos maleáveis... que possam traduzir emoções guardadas num lugar secreto.

San Rodrigues

toda leveza nasce de um instante de reflexão...