
mas é exatamente assim
este tal de Poeta, guardado calmo
na tempestade da própria alma.
Pega a caneta, a empunha
e desafia a lenta folha de papel,
com suas grades; a desafia,
à que ela liberte palavras antigas
e levante o tampão de buracos tristes
onde olhares em caixões foram mergulhados,
e pede para uma nova alma morar neles.
E este sujeitinho de caneta,
em calmo desespero,
faz um sol de fim de tarde,
sem nenhum alarde colorir as folhas do cipreste,
brilhar o trinado do pardal
e encher a água de dourado.
Faz o rio correr lento, sinuoso de saudade,
levando todo dia para outros lugares as margens.
Ele desafia o parto de substantivos fortes
em adjetivos estéreis,
ordenha verbos a movimentos e variações
que fazem dançar orações e versos.
Bem, essa figurinha com rosto de brisa
tem uma ventania nas mãos
e uma tempestade no olhar,
escreve; por que escrever
nada tarda,
no soneto nada falha,
no poema, apenas
tudo passa.
San Rodrigues
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