AS PALAVRAS...

As palavras,
esse líquido da verdade,
que sem perder sua essência
assumem todas as formas para poder dizer.
As palavras não disfarçam, não dissimulam;
vulcões, furacões e temporais,
não dissimulam,
brisas leves não dissimulam;
palavras dizem o que há na alma das coisas,
arrancam o véu e desnudam a pele.
As palavras desnudam enquanto
nossas roupas continuam lá;
enquanto há arrepios no olhar.
Palavras não falam na velocidade que lemos;
palavras falam na velocidade
que carvalhos envelhecem,
palavras falam na velocidade que rios secam
e impérios se dispersam,
palavras falam na velocidade
que o mar escreve nas pedras,
e que o futuro todo vira ontem.
Eu vi um homem,
na pedra mais alta do mundo
entregando um escrito aos deuses;
ele ergueu o papiro antigo
e avisou aos ventos que
capturara um instante divino,
que roubara sílabas das acrópoles,
e forjara palavras no fogo.
Relâmpagos arderam,
a terra dançou em um tremor fendente,
o céu crepusculizou,
a natureza se escondeu,
reinos se calaram,
os segundos levaram horas,
e as horas levaram uma eternidade
para chegar aos relógios,
que viram a sombras se esconder.
Uma voz grave,
que tremia os ventos,
perguntou quem era o homem,
e ele, só um homem,
buscou na raiz de seus sonhos mais antigos,
a resposta que ara séculos
e um silêncio que durou
um jardim de sequoias, ouviu:
“eu sou um poeta”.
O escuro feneceu,
a natureza respirou,
o tempo se moveu,
e Deus levemente sorriu para o poeta.

San Rodrigues