
haviam mil palavras ali dentro;
dessas que escrevem a vida
num lugar em mim
onde dormiam fúrias.
Lentamente o passo se formou
e movi meu corpo sobre a estrada das horas,
nessa coisa de querer chegar.
Meu ventre fremia,
sobre a folha de papel,
numa rebelião da geometria
contra o vazio pautado.
Gritei!
Lá no enorme silêncio;
no miasma de mil nomes,
mil coisas,
mil tempestades no meu céu,
nesse dossel cinéreo;
chamei a deusa memória,
essa traiçoeira.
Mil palavras acordaram;
o silêncio é puro,
as palavras não,
eu não.
Firo a eternidade matando o instante,
essa coisa fugaz;
mas a eternidade continua e passa por mim.
Eu fugaz.
Peguei cada palavra
e afiei contra a aspereza da saudade,
insisti em cada verdade.
Eram mil chances.
E então desesperado e afoitamente,
no meio do texto,
escrevi a palavra e deixei nascer o pensamento,
a serena elegância das ideias.
O instante abriu seu leque.
Lembrei-me de ter comido o pão que Deus amassou
e andaria pelas próximas quarenta palavras,
escondendo na ponta de minha caneta
o momento suave;
quando o instante virou poeta
e o poeta por um instante viu toda a vida
e com ela estava costurada as mil palavras do dia.
San Rodrigues
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