não seria poesia.
Poesia é como respirar,
até se esquece,
mas ela está lá,
essencial,
viva,
um ar
depois da outra sílaba,
uma palavra em outras,
depois do arfar.
Umas num nó,
outras numa ansiedade,
umas crispadas de saudades,
umas mentiras,
coisas secretas
de outras verdades.
Coisa assim,
mais que palavras;
essência,
entidade.
Poesia.
Minhas palavras
cheias de gás
amarradas no fio da meada
de uma alegria
em busca de paz.
Sem métrica,
sem ética,
desprendida,
hermética;
apertada,
usual,
em horas bem,
em horas mal.
Quem diz isso?
Poesia é o mais ecumênico
dos atos de palavrear.
Corre em veias de
pele negra, branca, amarela e avermelhada.
Corre nas veias da puta
e também da beata.
Foi assim que o poeta
aprendeu a poetar.
Se soubesse
não seria poesia.
San Rodrigues
San Rodrigues