Não tenho um milhão de respostas,
como você supôs eu ter.
Não sei quantos céus existem,
como você achou eu saber.
Nunca soube a distância do caminho,
como você previu que eu soubesse,
e sobre essa coisa de chorar,
nunca soube de onde as lágrimas nasciam.
Perdoe-me, seja lá quem for este vilão
que diz esquecer dos pecados.
Eu fui só um sonhador,
desses que se levantam pela manhã
e acham que conseguiram
domar as horas e enjaular o dia;
quantas vezes adernei do estranhamento ao entranhamento.
Eu só fui um desses pulmões frágeis
que ficavam sem ar diante de uma flor;
meu corpo nunca teve as mesmas ideias que eu.
Eu sorria, e diante do sorriso tudo para,
o sorriso é a manifestação dos lábios,
quando os olhos olhos
encontram o que o coração procura.
É assim um doce milagre,
um instante infantil
quando nos sentimos maiores do que a vida,
mas longo tempo não significa para sempre.
Perdoe-me, eu só fui dois olhos,
este par de vagalumes procurando
procurando traduzir o intervalo das coisas,
esta impetuosidade que as pálpebras conseguem controlar,
por que não posso empurrar o rio.
Perdoe-me seja lá que for o dia seguinte,
essa porta por onde todo tempo foge
e me dissolve,
eu este poeta de coisas tão pequenas,
essa beira do mundo.
A minha alma foi resumida
em poucas partes insignificantes.
Me perdoe, seja lá o que for esta palavra,
por que no fim,
lá, bem no último instante,
tudo são palavras,
uma atrás da outra,
sentenças, perguntas, afirmações
e então vou desconfortável
dentro desta existência,
desta curva acentuada até daqui a pouco.
Então, se for possível, me perdoe,
se posso assim chamar,
este momento difuso, profuso,
completo,
longínquo.
San Rodrigues
As palavras são este lugar secreto em que nossa alma acontece, nós as olhamos, medimos, viramos, desviramos e as costuramos umas às outras, remamos com as palavras e nosso barco é este breve instante.
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Letras e Atos...
Este espaço é um ensaio para a escrita fotográfica, aquela que vê a cena e provoca as palavras para que possam construir a metáfora da imagem.
Gravando as imagens do diálogo, dos gestos, dos paragrafos, do detalhe nos verbos, em assustadores substantivos e adjetivos maleáveis... que possam traduzir emoções guardadas num lugar secreto.
San Rodrigues
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San Rodrigues
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