Nem só de leito
o rio viverá,
mas de todo dia
caminhar pro mar.
Cuidei de uma poesia
do berço a tumba.
Lhe dei mel,
revoltas
e asas.
Cavei tão fundo
que saí inteirinho
numa lágrima;
ousada,
furtiva,
que afoga os olhos,
coura a respiração
e faz a mais dolorida das rimas
ser instante que mora no verso.
Por que hoje,
só dura hoje mesmo,
amanhã isso acaba.
Foi assim
com o arco de Paganini,
Foi assim com a aurora,
na alma contente a vida demora.
Falei minhas prosas para o vale,
e ele as repetiu pra mim;
minha voz,
meu olfato,
meus objetos,
meu tato.
Nada disto me é.
No tudo disto não sou.
Sou reservo ao direito de me regressar
para a rigidez da pétala.
Que o vento balança,
que a brisa leva,
que a sílaba encanta.
Que o verso completa
e no fim do rio,
quando começa o mar,
o desejo do aflito é cavar
no riso
a cova do poeta.
San Rodrigues
San Rodrigues
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