Não acue o poema.
Não peça dele clareza.
Clareza é uma coisa da monografia.
Poema é obsceno.
Tira a roupa no meio do Sarau.
Ri do abismo
para ter um eco diferente.
Ele rirá das seriedades
e as porá do avesso.
Poemas fazem cirurgias
em nossas saudades em coma.
O coma é uma vela
de sombras dançantes,
na frente do espelho.
Já tentei me explicar na frente do espelho.
Já tentei me explicar
na frente dos meus olhos.
No espelho.
O espelho vê quem quer,
fala do que quer.
Meus olhos brilham ao contrário,
o medo se furta na melancolia,
e o verbo ordinário
fica extraordinário.
O poema denso,
me vasculha e eu tão superfície,
tão raso,
tão pele neste país da idade adulta.
Alguns se mudam para ele na infância.
Me mudei,
mas mudo.
Mudo de alma.
Não acue o poema.
Apenas veja ele indo,
indo,
indo...
Lindo.
San Rodrigues
San Rodrigues
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